04 novembro 2008

Mar de Emoções

Hoje estás longe, mas quero acreditar que estás perto.
Oiço as músicas que me acalmam e substituem as tuas palavras, as nossas conversas. Substituem-nas, verdadeiramente?
Não sei, como não sei porque sinto a tua falta. Não a quero sentir, sabes? Admitir que vieste dar um novo brilho à minha vida. Não me sinto uma estrela, não sei ainda se tenho luz própria ou se esta existe nos olhos dos que me vêm. Talvez por isso, sinta a tua falta pela luz que me transmites e me fazes reflectir.
Sei que existia já dentro de mim. Não fizeste nascer nada de novo, apenas descobriste o que continha. Daí que pense que talvez, a luz própria da minha estrela não subsista sem o teu olhar. Por isso, não quero sentir a tua falta, para que a luz não se oculte na sombra.
Como vês, é puro egoísmo esta saudade…
Contudo, fizeste-me acreditar em mim, ouvir os meus sons, a minha melodia. Sei que hão-de ecoar, ainda, em ambos, e em mim.
Até que estes se silenciem, hei-de ouvir as músicas que me acalmam, como se fossem palavras tuas. Transformaste-me num mar de emoções, tão depressa brando como agitado, como as águas em que navegas agora, sob a luz das estrelas. As mesmas que, mudas, assistiram aos nossos diálogos, ao desenvolvimento da nossa amizade, ora forte e intensa, como uma tempestade no mar, ora suave e terna, como uma onda a beijar a areia, na maré baixa.
É assim que somos, ambos, estrelas de constelações próximas que se acompanham, quase se tocam, por vezes cruzam-se, mas não se encontram. Antes repartem entre si o reflexo do seu brilho, para poder rejubilar e resplandecer com a luminosidade da outra.
E assim, em conjunto, semelhantes, ambos à procura do rumo a seguir. Olhamos as estrelas e perguntamo-nos se o brilho que sentimos existe, subsiste, certos que do outro lado estará o outro qual estrela do Norte, assegurando-nos que o caminho está certo e iluminado.
Aqui, hoje sem ti, até porque algum dia teremos de partir da vida de cada um, ficando apenas a recordação do que partilhámos, oiço as músicas que tu não me cantas. Ainda assim, feliz pela oportunidade de brevemente poder pertencer à tua vida e alumiar o teu espírito da mesma forma que o fazes comigo. Certa de que as dançaríamos com prazer, num abraço amigo…com que poderás contar sempre que quiseres e precisares, e a que também poderás dizer adeus e até sempre, se e quando a altura chegar, sem mágoas, nem ressentimentos, porque é assim que sabemos ser um com o outro.
No entanto, a música terminou agora e fica o silêncio. Reproduzo ainda interiormente todos os sons que partilhámos. Pergunto-me, o que me fizeste? Porque me mostraste tanto se não mo podias entregar por completo? Esperaria tornar-me essencial a ti, ocupar-te os pensamentos, não com as formas como me poderias fazer feliz, mas antes com a possibilidade de eu ser a resposta que procuras. Pensei tentar sê-lo, cativar-te, preencher-te. Conheço-te bem demais para antecipar a tua fuga mais rápida. Deverei ser constante? Frequente? Mostrar-te o quanto me importo? Merecerá a pena?
Conheço os teus métodos, as tuas estratégias, quem tu és. Por saber que agirias assim e que isso me denunciaria, retenho-me.
Fazes-me falta. Mas tenho de te dar espaço para que percebas se eu também te faço falta. Adivinho que não e por isso paro as músicas. Todas elas. Não te quero ouvir mais; mais uma vez quero esquecer-te após me lembrares o quanto és capaz de me preencher. Farei o que já fiz antes, contigo também. Guardar-te-ei bem fundo na minha memória. Tão fundo quanto a amnésia.
Como posso eu lembrar os nossos momentos sem mágoa por não passarem disso? Silencio as músicas porque já não me acalmam. Doem-me na tua ausência, principalmente porque acho que não voltarás a estar presente. Será melhor assim, saberás.
Não quero ocupar um lugar de relevo no teu pensamento. Se assim for, terás de admitir que sou algo mais forte do que pensas. E não o serei. Por definição tua.
Confundes-me com a tua atenção. Sentes isso também, mas ainda assim te manténs constante. Não o faças mais se não te sentires capaz de ir mais além.
O silêncio esclarece-me agora. Não estás desse lado, nem me acompanham as músicas que me acalmam. Estou só, comigo. Como antes.
Espreito pela janela. Vejo-te, uma estrela cadente na qual expressei um desejo calado que não se realizou.
Sinto-me um oceano, vasto, imenso. Fria, sem ti. Não te perdi sequer; mais uma vez não te consegui ter. Não quero ser a vaga que se abate constantemente sobre a falésia, esculpindo-a, rasgando-a. Preferia ser a onda que te embala, ora doce, ora agitada, de acordo com os teus sentidos. Deixar-me eu própria embalar pela tua maré.
Partirás de mim, sem rumo definido, talvez só pelo prazer de partir sem rumo definido. E eu, novamente, deixar-te-ei partir.
Mas é assim que somos, tu e eu. Amamos livres. À deriva…

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